quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Engasgo

Acordou de um sonho,consecutivo de um sono profundo,assustado tocou-se como um morto já em outra.Levantou-se lentamente ,tombando em meio as paredes,cálidas e suavemente úmidas.Trêmulo,entorpecido de ilusões verdadeiras ,acolchoadas em seus passos ali dados,acolchoadas em uma perda,abraçou a vida de seus olhos vendados.

Foi até a janela,sentiu-se insuficiente,como quem nada pudesse sentir,acordado.Pegou um copo d´água morna,e voltou.Olhou para o vão das luzes tão vivas da cidade,experimentou uma paixão melancólica e irretroativa,engolida vorazmente em um gole único,um gole de fôlego.Sem piscar,sem soluçar ,continuou a olhar para os brilhos urbanos .

Tão só,esquecido,selvagem de si,ouviu uma voz lhe chamar,um risco sonoro.Não se manifestou.Ouviu-a novamente.E em espaços intermitentes de minutos,tal processo se repetiu.E o sonho,então, caiu como uma lembrança, martelou-lhe os pensamentos,o suor frio começou a derramar sobre sua face,tão pasmamente sem escapada expressão .Seguiu o som do sussurro,com seu silêncio e pavor.O tom desse aumentava.Vinha da janela dos fundos,ao menos parecia.Em certo momento,um breu tão intimidador e convidativo o fez,por lá, debruçar-se,abrir os braços,se abraçar.Sobre o parapeito.Estava no fundo de seu apartamento,enquanto a voz se calava,fazendo-se mais tímida,adormecida sobre um veludo leve,ou talvez vibrante de expectativa.Um enjôo se instalou.

Sentiu o vento lhe socar,entrar pelos cômodos sem nenhum convite,despindo partículas de poeiras,partículas do ócio.A voz retornou como um grito fulminante.De peito para o ar,sem matéria contra,não via mais a luz da cidade,não sentia o que seu corpo abrigava.Sentiu,sim, um engasgo como uma faca afiada contra o tórax,contra a ação do pulmão.A partir de tal instante,não escutava mais o ruído da chamada,mas via a palavra de socorro,de alívio.Fechou os olhos,respirou profundamente seu pavor em todo o ar,sentiu o clique de lâmpada estourada...E então deu um passo.

Foi,apenas,uma noite quente de verão.

Um comentário:

  1. vc é um poeta livre de qualquer jargão
    sempre com um fone no ouvido.. e 1 2 na mão!

    beijo edge!

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