segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Companhia ideal

         Companhia ideal não é jeito de achar a brecha da solidão, uma moldura ou um sujeito, mas de ter plausível o que pesa em abstrato, sem propriedade que possibilite uma forçosa distinção. Companhia ideal são os ventos mais leves que só tropeçam naquela pele, que só existem naquele descanso aceso e miúdo, invisível e contundente. Habita a epiderme e dorme no suor.
        Perceber que a companhia ideal é a saudade sem egoísmo, sem vaidade ou matéria é só um livre jeito de olhar a mesma coisa com a paciência da confusão e erro, com o sabor da novidade- sem ansiedade. Respirar sem notar a existência do desencontro, da palavra, sem notar-se como corpo sólido e infundado.
          Companhia ideal é um sol de amigos em plural, uma divisão sem barras e conclusões. Uma imensidão de amores em singularidade. Esbarrão de diferença que se configura privilégios.
             Um dia sem chuva, sem céu notado. Um caminho novo que bruscamente escapa da rotina que não nasceu em sua veia, e leva...e inunda bons ares, ou talvez, lágrimas livres e sinceras de acaso. É ter um outro sem fim. Companhia ideal desmancha a infidelidade por não acatar o conceito do normal, por ter a pura presença como colo macio, perecível e eterno; por ter como dádiva a pura existência de alguém que sorri-  A compreensão em forma de garoa, infinitas portas de reinventáveis labirintos.
           Companhia ideal é a interpretação quieta e indiscreta das infinitas intenções de um olhar, uma hora sem ponto, um abraço sem tempo e recado.
              Minha companhia ideal é um abismo de sonhos por todo um sorriso compartilhado, um leve jeito de se perder de mãos dadas por vários caminhos inconclusos. É ver e perceber a felicidade como alma.
             Companhia ideal é amiga, clara maneira de respirar para dentro e longe de si,  modo que não seja necessário dormir para ter descanso.

sábado, 1 de outubro de 2011

Rebobinada boba

Andando indiferentemente nua, longe, vagando na lua
Te vi pelo eterno deserto das cores da rua...
Respirando e respirando pelo suor de seus sonhos
De banhos de beijos, de ensaios de enganos...
Sorrindo desenganos , sobras agudas e impuras

Da tatuagem do seu cheiro, grudado na cama,
Da expectativa por assistir seu olhar me pousar.
Mas as distâncias são completamente... Lugares.
É,. e só no seu rosto eu guardava todos os lugares
Que podia viajar, tomar, desocupar e cansar.

Paixão breve, como um abraço eterno no meio da chuva,
Paixão insana,

Que perdi pelo deserto das sombras da rua,
Com medo de ser falsa a dor, como política demagoga...
Mas nunca deixei de tentar libertar os desejos mais pesados
Por nossos corpos, por nossos ditados de dias só
Perdi seu cheiro com os cigarros que se cansaram,
Como cadernos que se escondem para não serem apagados,
Como conquista por proclamação de versos roubados,
Risadas avulsas no palco fundo de um drama!

Ah,
Há quem dance!

Mas talvez, fossem apenas dias envelhecidos de um romance,
Em que tive seu gosto tatuado por toda cama...
Longe e tão perto era:
A mágoa do olhar de um personagem de filme argentino,
O piso firme perdido em milhares quilômetros de lama,
O amor hostil da farofa sarcástica de Tarantino.
 
Há quem dance!