sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Amor é imundo

O amor tem um pouco de lama com cerveja por cima,
Um pouco da casquinha do asfalto do meio-fio,
Nele a lua brilha.
Um pé ralado pela andança das contra-mãos
Faz mistério longe dos olhos, corre e venta o cheiro.
Suado e sujo, o amor é imundo.

O amor cresce no chão duro e encrespado, na maldade do bote
Estremece na amplitude abismática do suor e da lambida,
Da chuva podre e do límpido vendaval.
Não manda cartas, se perde e volta, é bruto e estúpido
Não se esmiuda pelo cheiro de mijo nas paredes do ambiente.
O amor é imundo.

No beijo morde, na pegada fode, chora litros, acende um
E sorri.
Topa a canela, esfola o mindinho, se chupa em sangue,
De novo se cria no chão, mancha a cama, ignora o abismo
Dança, dança, imundo.
O amor não gosta de banho.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Meu lugar

Meu lugar está tão cheio que as paredes se calam vazias,
O som de nada me arranha, meu olhos a clamam
Só que não enxergo, não enxergo.
Meu lugar tem chuvas dos pedaços de tetos inconcretos,
Carta com choros e coisas que nunca escreverei.

Dez cigarros sujos, minha boca seca, meu amor rebelde,
Um disco quebrado do Caetano, a cama mal feita
Dez mil noites com ventos afoitos contra a janela.
Fotos! Uma estrada infinita e comprimida em m²,
Risadas e silêncios de poesias que não rimam.

Uma guitarra sentimental e sem inspiração cai
No meu lugar os rostos estrangeiros se acalmam,
Os cheiros são largos!
Meu lugar é um labirinto infinito de orgulhos e vergonhas,
Selvas de alguns fins de carnavais, segundas- feiras mortas.
Segundos, segredos e sonhos senis.

Meus abismos se embrulham pelos lençóis da cama,
No meu lugar,

Habitam desordens românticas, umas frases ruins, lembranças
de beijos, festas e demissões. Liberdade e prisão!
Vinte pratos  pouco limpos e copos esquecidos pelos vícios
E plenitudes, ritmos loucos. Uma dor da saudade de Salvador,
Um medo carioca. Remédios rudes e clareza tênue.

Meu lugar pode ser tão cheio que as chaves eu acho sem querer
A luz de nada me umedece, meus olhos a clamam
Quando a enxergo, quando a chamo, quando canto.
Só que ela acha que eu quero ser vanguarda.

E o mundo se vai com um vento...