segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Três em um

Maré



São coisas simples quando sentidas, que se desmancham em profundezas,

Onde de tal forma perde-se as sílabas, como aves que esmiuçam seus rastros.

O início do amor é dar-se conta de uma paz e um póstumo pavor, infantil insegurança engolida à talo.

Assim é.


É tanto ar para o pulmão, que o coraç.ão não se controla a bater mais forte;

Te respirei
Te respirei, tão suada nesse inverno.
Caí por um beijo como se estivesse num abismo invisível,
Incontrolável foi a queda, minuciosa e refrescante.
Senti-me ao entorpecente voraz da fragrância inconfundível ,
Pertinente ao perfume tênue de moça sem semblante.

Sem semblante.

(Há desejo em só respirar isso, torturo-o a gritar que não)

Foi , pouco só , fogo imprevisível e tão incerto em sua imagem,
Enganando-se em queimar, se expondo ao por-do -sol.
Olhos bêbados, balbuciando a fragilidade do instante, bastante.
Caí em lábios  fugazes, felizes e, apenas, de viagem.

Agora , acho que falo para ti

Criança tola para com o domínio de matéria!!
O que  és , ao existir? De que vale?
Sinto a dor de fome obesa da miséria...
E só porque, querida , há tua carne!

Rasguei- me nas raízes, e logo nestas que  não vejo.
Por onde voam  as aves, que esmiuçam seus rastros?
Não existem meios , ou fins de liberdade à tal desejo.
Só o cheiro teu ,que se propaga por campos vastos!

Não vejo,  não vejo.
Dou a palavra para o fim da perda do meu ensejo ...
És adrenalina, endorfina, morfina , cocaína!

Menina,

Não vejo cores, não vejo flores, fui anti-razão a voar.

Vi flores, sei la se cores, sou um romântico sem classe.
Foram-se tantas as desculpas, ou pouca que faltasse...
Que não serviram para a maré não chorar.

- Lembro-me, que te respirei -

Tanto que caí em um abismo de início invisível, 
Como se estivesse a beijar,
Senti ondas quebrando, sem padrão, em alto mar.
Flácidas e gélidas e sujas e vorazes e úmidas para queimar. 
Fortes e baixas, e atiradas e homicidas e esculpidas de luar
E brutas e barulhentas e breves e vastas  e pausadas no ventar.

Até que, finalmente, cansei... Querendo me afogar,
Engoli, assim, o ar das águas, escutei o céu bem devagar.
De tal modo, que não consegui
Não consegui mais te respirar!


Inefável

Surdo com o escândalo
Da beleza
Da perda
Da tristeza
Inefável.


Não há certeza no amor,
Ridículo
É fazer festa na prisão.


E estar sozinho


Para o amar inabalável
Contra a anáfora do sofrer,
Sem ter pra quem dizer...
O quanto é inefável.


Ele calcula ,em razão das palavras,
A liberdade de amor previsível
Enquanto chora quieto, no silêncio,
Urrando eternamente o indizível...


Que engasgar é mais do que ter medo,
Pois não há desculpa de engano,
Não há mais volta pro que foi cedo.


E por entre as veias,
Introduz-se algo,
Para fugir, leve,
Do estável.
Não há lugar,
Se logo vem nova felicidade.
Pois sentir-se livre,
Sem dor,
De puro amor,
Sentir-se inviável,
Para além da saudade...
É de forma crua
Inefável.

Sensação


S
urgi, exasperado, pelo seu corpo quente , meio que de repente,
Como luz que brilha a náusea em viajados olhos de estrada.
Surgi, como um bêbado perdido em recados de qualquer gente,
Procurando uma flor, uma frase copiada, uma paixão roubada.



E ainda assim, amei-a toda e meia, em goles de angústias destiladas,
Gritei mil trezentos e cinquenta palavrões necessitados de apego,
Sem saber e sentir, sem poder , por fé fretada, mentir meu desespero
Afásico por ela, louvada , que se vai feita de forma pura e exagerada.