sexta-feira, 12 de março de 2010

Encontro

Não foi absoluto, como fácil detectar sua primeira ausência de firmeza. A rua amanheceu vazia, sem passos certos assinados no asfalto. Estava simpática como o céu claro e morno de um feriado.

Parou o primeiro ônibus dos últimos trinta minutos de espera, cinco varejos de cigarros detidos pelo desespero, e uns refrões ansiosamente cantados introspectivamente, de qualquer forma. Foi um tempo.

Dentro desse, não hesitou em pensar em como hesitar o que sucederia aquela pequena viagem. Seria um abraço frio, ou sem jeito ao longo de uma conversa artificial?Teriam ambos olhos, um caminho certo a se encontrar? Ou cantaria um tempo envergonhado de dor?O coração sambava meio que sem ar,sem palpite convicto ou corajoso. Era apenas uma idéia medrosa,que em meio o chacoalhar das curvas, não expelia-se à este impacto externo.

Uma freada forte, uma pausa forçada.

De repente, a cabeça declinou-se e os olhos fundos e viciados nessa adrenalina, por um tempo incerto à razão, pararam e fixaram-se num espelho quebrado,largado ao chão. Uma coisa vaga de importância,e por isso, sem mais, valia medo. Estava fora do conforto de qualquer função,expondo faces distorcidas e curiosas. Um espelho sujo, odorante de mofo,i ndiferente a qualquer beleza perdida no tempo. Uma poeira exclamativa. Houve o medo de expor a cara frente àquilo, no momento em que nasceu uma náusea forte,que fazia a pele não respirar mais, sob o suor frio e tão pesado.Tudo girou com “h´s” de hipocrisia, com quaisquer cheiros egoístas de paixão.

Saltou do ônibus, com os olhos surdos, correu contra o trânsito de ruídos intermitentemente cegos. Arranhou-se ao rasgar a roupa, enquanto tropeçava e se via, em grãos de vidros e cacos, não mais existentes. E se opôs ao encontro, como um amor transparente. Sem face,s em tese e prática, sem imagem. Um amor escondido, recolhido no próprio pânico, um amor fantasma.

terça-feira, 9 de março de 2010

Saudade #2

Como um dia cinza de ressaca,a saudade se renova carregada pelo vento.Não seria simples apenas recorda-la com um sorriso breve,temos que chorá-la,descascando-a ao lamentá-la,gota a gota.Faz-se orvalho em frente ao espelho,sempre amargando o doce, que é o desperdício do amor;testando essa faca na própria pele.

sábado, 6 de março de 2010

Saudade


Paladar tão doce que seca,
Inundando sede desértica.
E com a força da mesma,
Sangrando vontade erma...
Sente-se em intensidade
Carência vaga,
Chá frio de saudade.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Chocolate amargo

Ontem à noite, a saliva grudou junto à língua como um estalo rente à pele, com um princípio doce e um cheiro cítrico. Uma forma de secar-se e amar, incessantemente, a finura do chocolate amargo. Um frio carregado ao nada veio, relutante à respiração vaporosa da descoberta, quando uma pergunta atacou, em meio o toque, derramada por silêncio. Como tornou-se um tato, a solidão tão cega dos olhos chorosos pelo escuro?

Então, irrigando rostos doces da fala desértica, a chuva caiu... Como uma só intriga.